segunda-feira, 31 de março de 2014

Peugeot 2008 chega em 2015

Peugeot 2008 chega ao mercado em 2014 com produção nacional (Foto: Divulgação)










A indústria automotiva adora frases de efeito. Com o 2008, a Peugeot lançou mão do lugar-comum “casamento entre dois mundos”. A ideia é enaltecer o modelo que acaba de estrear na Europa com aquela velha receita de bolo: proposta fora de estrada e ímpeto urbano. Traduzindo, o 2008, que será produzido no Brasil no fim do ano que vem, é o que o setor adora (também) chamar de crossover.
No primeiro contato visual com o carro, no estacionamento do aeroporto de Estrasburgo, na região francesa da Alsácia, percebe-se de cara que a Peugeot preferiu investir bastante na porção “esportivo” – e menos na “utilitário”. Feito sobre a plataforma do 208, o modelo está mais para uma versão bombada do hatch compacto.

Peugeot 2008 (Foto: Divulgação)Dessa forma, o novo felino do pedaço mostra suas garras na Europa para algo diferente do que no Brasil estamos acostumados a chamar de crossover. Eles está mais para Nissan Juke e Renault Captur (modelos que não temos no Brasil ainda), típicos “jipinhos alternativos”, com visual moderno e uma dose discreta de robustez.
É justamente o porte enxuto que depõe a favor do 2008. O modelo é 8 cm mais alto e 20 cm mais longo que o hatch 208. Graças às dimensões sem exageros, o crossover se comporta quase como um hatch. Nas curvas fechadas (e divertidas) do Parque Natural Ballons des Vosges, a estabilidade do carro surpreendeu e o 2008 se mostrou mais equilibrado que o irmão menor – e com muito menos aptidão para “João Bobo” que Eco e Duster, por exemplo.
Tudo corrobora para uma faceta mais esportiva do 2008. Como no 208, o volante diminuto destacado em relação ao quadro de instrumentos faz as vezes de cockpit – apesar de não ser tarefa simples ajustá-lo de uma forma que o aro não tape a visão dos mostradores. A direção com assistência elétrica fica pesadinha em altas velocidades e é bem direta. Uma mexidinha no volante e as rodas obedecem fielmente ao chamado.
Há outros aliados para o motorista se sentir em um “quase kart”. A boa rigidez da carroceria e a suspensão com calibragem mais rígida ajudam a grudar o carro no chão – para o Brasil, a geometria da suspensão será a mesma, mas a carga dos amortecedores e das molas será suavizada para aguentar a “trilha asfáltica” de nossas ruas.
Peugeot 2008 (Foto: Divulgação)










A vida a bordo é boa, porém, há alguns percalços. Como no 208, o console central é largo e só livra mesmo os joelhos de pessoas de estatura mediana – ou em boa forma, o que não é o caso deste corpulento repórter que vos escreve. A coluna central larga atrapalha a visão na hora de sair daquele cruzamento complicado.
Detalhes tão pequenos logo ofuscados pelas bossas metrossexuais do 2008. Sim, a Peugeot adotou de vez os rompantes “fashion alternativos” da co-irmã Citroën. O quadro de instrumentos tem molduras com leds azuis, e o freio de estacionamento é todo estiloso, com jeitão de manche.
O grande barato é o teto de vidro, que se estende quase até a coluna de trás. Na falta de tempo para as paradinhas turísticas, ele possibilitou admirar – mesmo que por poucos instantes – as torres das igrejas seculares, as esculturas em homenagem aos mortos da Primeira Guerra e a arquitetura germânica desta porção alemã da França.
Peugeot 2008 (Foto: Peugeot)
O teto, contudo, cobra a conta. Por causa do forro mais baixo, pessoas com mais de 1,75 m de altura raspam a cabeça quando viajam atrás. A compensação vem em mais espaço para as pernas, já que os bancos traseiros foram rebaixados e levemente recuados. E com o assento mais baixo, o rebatimento deixa o assoalho plano, aumentando o espaço para bagagens.
A Peugeot garante que, na França, a procura pelo 2008 está grande. O modelo começou a ser vendido em maio na Europa por iniciais 15.200 euros (cerca de R$ 42 mil), com o motor 1.2 turbo de três cilindros, o mais recente representante francês da “era downsizing”. A marca diz que “estuda” adotar o propulsor no 2008, mas uma fonte do fabricante confirma que a unidade de 82 cv vai equipar os Peugeot e Citroën brasileiros a partir de 2015.
A avaliação foi com os motores 1.6 16V. O que queima gasolina usa o mesmo bloco utilizado por ambas as marcas francesas no Brasil, com variação de válvulas na admissão. No 2008, dá conta do recado, mas coloca a língua para fora nas retomadas. Como o motor só desperta acima das 3.500 rpm, o jeito é chamar na caixa manual de cinco marchas nas subidas mais exigentes e ultrapassagens. Nas autoestradas, o 2008 alcança sem esforço os 120 km/h permitidos, com fôlego para ir além.
Já o 1.6 diesel turbo vira um espoletinha no 2008. Com 115 cv e torque de sobra em baixos giros, o crossover esbanja disposição. Ainda mais casado com a eficiente transmissão manual de seis marchas. Muito bem escalonada, com curso curto e engates precisos, valoriza a vontade esportiva do nosso pseudo-aventureiro – e bem que poderia entrar no lugar da molenga caixa manual de cinco utilizada no Brasil.
Peugeot 2008 (Foto: Peugeot)
E este crossover não pisa na lama? Pisa, mas com botas. A Peugeot preparou um circuito off-road sob risco calculado, claro, para provar o ímpeto lameiro do 2008. Porém, como não há qualquer versão 4x4, a marca teve de dotar o modelo do Grip Control. Trata-se de um dispositivo que atua no controle de tração para fazer este urbanóide brincar de se sujar. Na tecla giratória à frente do freio de mão, há quatro modos de condução: standard, neve, areia e saibro.
É uma espécie de diferencial eletrônico virtual. Para sair do buraco de lama preparado pela Peugeot, é preciso acelerar constante enquanto o sistema dosa a força entre as rodas da frente. O grande segredo é a pressão no pedal direito: ao acelerar além da conta, os pneus de inverno cavam a lama; ao pisar suave, o carro fica no meio da subida.
No fim, o 2008 saiu da lama são e salvo, com a consciência de que está longe de ter um porte de utilitário ao qual o brasileiro se acostumou. Para o Brasil, a marca aposta justamente neste jeito moderninho e parrudinho como uma alternativa para quem está cansado de grandalhões como Duster ou Eco. E tentar beliscar vendas dos que não aguentam a previsibilidade de minivans ou dos órfãos de peruas compactas. A Peugeot, pelo visto, sabe direitinho que trilha seguir.

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