A Volkswagen espiou durante um bom tempo a briga entre utilitários esportivos compactos. Inaugurado no Brasil pelo Ford EcoSport em 2003, o segmento cresceu muito ao longo desses dez anos. Hoje ele tem uma dezena de concorrentes. Só para citar alguns dos mais conhecidos, há Renault Duster, Hyundai Tucson, Chery Tiggo, Citroën AirCross e VW Crossfox, esses dois últimos não são exatamente utilitários. Existe ainda uma fila de espera que se organiza para entrar no país, encabeçada por Chevrolet Tracker e Renault Captur. E onde estaria a resposta da VW a tudo isso? Na nova geração do Tiguan? Quase. Troque as letras “i” e “a” de posição e temos a resposta: Taigun. Ele vai inaugurar um novo segmento de utilitários (verdadeiramente) compactos. Só deve chegar em 2015, mas Autoesporte foi até a Argentina para saber se esse jipinho é muito mais do que um trocadilho de letras.
A importância do Taigun para o mercado brasileiro foi comprovada em outubro passado, quando o modelo foi revelado ao mundo no Salão de São Paulo. E nós estávamos lá para conferir de perto os 3,85 metros de comprimento e o 1,72 m de largura do SUV. De cara, ele não nos pareceu um concorrente à altura, literalmente, do EcoSport. Isso porque o VW tem 1,57 de altura - 10 cm mais baixo que o Ford e 6 cm mais baixo que o CrossFox. “Ainda não é hora de apontar os concorrentes. Mas o mercado oferece hoje modelos como Sandero Stepway, Palio Adventure e até o CrossFox que são simplesmente modelos convencionais com a adição de plástico. O Taigun é um SUV de verdade”, explica o responsável pelo marketing de produto da VW, Jan-Phillip Kruthoff.
Curta e grossa, a frase dele somada às medidas do conceito podem explicar tudo: o Taigun será um SUV mais barato que o EcoSport. De cara, o pequenino impressiona pela chamativa cor azul, assim como as linhas quadradonas que podem remeter ao Duster. A dianteira com farol espichado até o para-choque é uma resposta aos críticos do estilo “tudo igual” dos modelos da marca alemã. Os para-lamas saltados reforçam o espírito de força do compacto SUV, assim como os racks no teto. As lanternas em forma retangular complementam as linhas quadradas e deverão ser adotadas em todos os utilitários da marca. Gostou dos extratores de alumínio sob os para-choques? Pode esquecê-los, pois eles não serão adotados no modelo de produção. “Isso certamente será mais simples”, afirma Jan-Phillip. Mas, espera aí, isso não é só um modelo em estudo, meu caro? As rodas de 17 polegadas calçadas com pneus 205/50 completam o visual, mas só deverão ser adotadas lá na Europa.
Abrir as portas do Taigun, assim como no Up! (subcompacto do qual deriva, que a VW vai lançar no Brasil no fim deste ano), é uma grata surpresa. Os 2,47 metros de entre-eixos fazem milagre. São 5 cm a mais que o hatch e um espaço interno surpreendente dentro de linhas tão compactas do lado de fora. O utilitário está 69,4 cm mais alto em relação ao solo, o que garante uma posição de dirigir 6,4 cm superior à do futuro hatch de entrada. O banco um tanto estreito em formato único (para economizar) não é dos mais confortáveis, mas passa a sensação de estar de fato dentro de um SUV. Isso é reforçado também pela largura da cabine e a profundidade do painel.
O painel é simples e bem objetivo. Não há porta-luvas, mas um espaçoso vão na parte inferior à direita. Há comandos individuais do ar-condicionado, que deverão ser simplificados na versão de produção. Outra vantagem está no ótimo espaço para as pernas, graças ao console posicionado lá embaixo, e que não está interligado com o painel - algo quase que inexistente nos modelos nacionais. Há mimos como squeezes sobre o painel, o celular Samsung responsável pelo sistema de som, cordas nas laterais de porta e as cores chamativas - azul, branca e amarela —, que não serão adotados na versão final.
Quem vai atrás se surpreende com o espaço que não é formidável para as pernas, mas incrível para a cabeça. Até mesmo pessoas mais altas viajam com conforto dentro desta “caixa”, mérito das linhas quadradas do Taigun. No conceito há banco dividido para duas pessoas, que dará espaço para três na versão de produção. Os vidros do tipo basculante, como no Up! europeu, parecem estranhos para o mercado brasileiro, mas haverá solução. “Deverá haver um vidro com abertura convencional em alguns mercados”, informa Jan-Philipp.
Economia turbinada
A VW nos impôs a condição de avaliar o modelo a até 60 km/h, por se tratar de um protótipo. A avaliação foi feita em circuito fechado e também numa rodovia em Cañuela, pequena cidade 1h30 distante da capital argentina. Isso limita um pouco a experiência ao volante, mas tivemos uma boa experiência a bordo do SUV em mais de 2 horas de avaliação. A direção elétrica é bastante suave e torna fácil a missão de conduzir o Taigun. Em movimento, há a certeza de que, embora muito pequeno, ele realmente é um crossover. Isso por conta da altura elevada em relação ao solo e o amplo campo de visão do trânsito ao redor. Se havia dúvidas, não há mais. Ele em nada se parece um hatch mais alto, é sim um SUV em tamanho praticamente micro. Nada parecido com o CrossFox, um hatch adaptado para parecer aventureiro.
O Taigun ostenta sob o capô um avanço à tecnologia dos motores de três cilindros da VW. É que no utilitário, o motor EA211 1.0 12V adotou também um turbo, que elevou sua potência paraa 110 cv a 5.000 rpm – no Fox, a versão aspirada rende 82 cv com etanol. Nas saídas mais fortes, o modelo se mostrou tão esperto quanto um 1.6, mas com uma força a mais nas saídas, graças ao turbo. São 17,8 kgfm de torque disponíveis desde os 1.500 rpm, segundo a VW. Com o pé embaixo, as duas primeiras marchas do câmbio de seis velocidades passam muito rápido. Uma pequena vibração causa estranheza nas primeiras voltas, isso por conta do motor de três cilindros. Mas não é nada tão significativo quanto num motor a diesel e é fácil se acostumar com a novidade.
A suspensão firme adere bem às imperfeições do piso, isso porque estamos falando de uma versão conceitual com certa dose de barulho devido ao encaixe das peças. Deve haver, logicamente, uma melhora na versão de produção, assim como no desempenho, já que o showcar é um pouco mais pesado que a versão de produção — e olha que segundo a VW o Taigun pesa só 985 kg. Segundo a VW, o modelo acelera de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos, com máxima de 186 km/h. Esse motor, porém, deverá ser adotado somente na versão topo de linha, esta sim capaz de brigar com os Eco mais simples. Ao que tudo indica, o utilitário se posicionará numa faixa de preço abaixo do Ford. Ainda é muito cedo para falar na produção do modelo, assim como no preço. Mas o Taigun deverá partir de R$ 45 mil, uma faixa de preço que hoje estão modelos como CrossFox, Sandero Stepway, citados pelo executivo da marca alemã.
Mostrado pela primeira vez aqui na América Latina, o modelo deverá ser lançado antes por aqui do que na Europa. A produção deverá ficar entre Brasil e Argentina, disputa que muito provavelmente será vencida mais uma vez por nós — desculpem-nos, hermanos! Autoesporte aposta que o modelo desembarcará por aqui entre o final de 2014 e o começo de 2015. Demorou, mas a VW vai entrar na briga pra valer. Ou será que ela criou uma nova disputa?
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